Lembro-me de ser criança e de baloiçar nesta cadeira de baloiço, onde hoje a Joana Flôr balança.
O meu pai vestia-se de pai Natal e tocava à campainha.
Íamos ao musgo, enfeitávamos a árvore de Natal com bolas de algodão (a imitar a neve), luzinhas coloridas e chocolates em forma de pinha, de pai Natal e de sombrinhas (da Regina).
Guardava as pratas destes chocolates dentro dos livros.
Devorava as férias, entre chocolates, livros e filmes.
A avó paterna começava a comprar os presentes com um mês de antecedência - um mês a sonhar com o que se escondia em cada embrulho.
O meu pai vestia-se de pai Natal e tocava à campainha.
Agora só me sento nesta cadeira de baloiço, na véspera de Natal.
O mês de Dezembro passou a ser um mês de muito trabalho (desde que trabalho).
Ficou pouco espaço para as rotinas natalícias... para escrever aos que estão fisicamente longe, mas emocionalmente próximos.
Fiz postais de Natal, mas ainda não os enviei.
Antigamente, lembro-me, viajava com amigos no dia de Natal. Todos os anos viajávamos até uma capital europeia. Saíamos no dia 25 de Dezembro e fazíamos a viagem a partilhar as peripécias de Natal.
Era de rir até chorar: panos de cozinha, cuecas, "camisas interiores", toalhas de banho, ... estavam entre os presentes mais citados.
Um dia acordei adulta, creio que há uns 5 anos.
Não foi a idade cronológica, mas os desafios da vida.
A vida dá nós, que vou desatando.
O Natal passou a ser outra coisa.
Este ano foi o abraço improvável do professor de violoncelo, no CCB, no meio um mar de gente, fumo de castanhas e nevoeiro {pura magia de Natal} - não nos víamos há 2 - 3 anos?
E este email, com 2 meses:
"Sabes que fundei um projecto de orquestra para músicos amadores
para estudantes e funcionários da Universidade de Lisboa. Começou como
uma coisa humilde, mas está a crescer muito e os moços, apesar de
amadores e terem a sua vida profissional, dedicam-me mesmo à causa.
Lembro-me sempre de ti porque acho que adorarias estar num projecto assim."
Este ano foi uma carta da Rahel, sobre a Alegria. {uma carta tão bonita, feita com tanto cuidado - é a partilha de um pouco do seu diário, com alegria}
E a carta que tinha hoje no correio, da M. [com um CD que sim, irei ouvir]
E as mensagens diárias, sobre os nossos dias:
"Estou a beber um café" ou "Hoje pintei os lábios de vermelho para disfarçar o sono"
A mensagem da Anita, sobre o abraço que deu aos pais, já depois do Natal. {que presente!}
O telefonema do Tino, na noite de Natal. A voz dele, ao telefone, cheia de vida.
O Natal é também o excesso de trabalho e o empenho das pessoas que trabalham comigo.
É estar inteira no trabalho, a dar resposta às necessidades dos outros (esquecendo-me completamente de mim).
O Natal foi a azevia que comi com a mãe da Joana [a mãe chamava-lhe Janela] no local de trabalho dela [uma mãe fortaleza], e duas horas de conversa num corredor de doentes oncológicos.
O Natal foi o meu pai, vestido de pijama de pai, à minha espera, na sala, era quase meia-noite.
Cheguei, dei-lhe um beijo e disse: "até amanhã, estou muito cansada".
Mas... "Senta-te um bocadinho aqui".
Conversámos 1 hora. O melhor presente... o meu melhor presente.
E hoje é o dia em que olho para o ano de 2015... que já passou e que me faz ser quem sou.
Deixei Vila Viçosa há 1 ano, fui monja durante 8 dias, fui a Cabo Verde mergulhar no Verão (era ainda Inverno), fui a Castro Verde descobrir que afinal o meu coração não avariou, entreguei-o inteiro (com algumas nódoas negras e muita honestidade), tive medo de perder uma pessoa, numa noite no meio do Porto, senti-me verdadeiramente feliz de não a ter perdido.
Despedi uma pessoa (libertei-me, libertei-a).
Caminhei com outra, meio percurso feito por inteiro. Eu inteira, mas ainda não era por aqui, não era para continuar.
E no final do ano... o reencontro dos amigos do Minho.
O Minho, o Minho, o Minho...
E o Tino.
E o desejo de voltar a este lugar onde fui feliz. Onde sou feliz.
E um desejo para 2016: em tudo ir e estar com alegria (sem medo).
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