Uma vez, o meu avô apaixonou-se por uma dríade - uma ninfa dos bosques que vive nas árvores e para quem as árvores são sagradas e que dança em volta das árvores vestida com um delicado tutu verde da cor da folhagem e que traz consigo um grande machado cintilante como prata para limpar o sebo a qualquer pessoa que execute todo e qualquer gesto hostil para o bem-estar e para a saúde mental das árvores. À época, o meu avô era madeireiro.
(Donald Barthelme, Partidas. Tradução de Paulo Faria)
Que ouvi, aqui: http://last-tapes.blogspot.pt/
e esta:
ResponderEliminarA simplicidade
O que sobretudo tem faltado à minha vida até agora é a simplicidade. Começo a mudar a pouco e pouco.
Por exemplo, actualmente saio sempre de casa com a minha cama e, quando uma mulher me apetece, agarro nela e deito-me com ela imediatamente.
Se tem as orelhas ou o nariz grandes e feios, tiro-lhos juntamente com as roupas e meto-os debaixo da cama, para ela os poder recuperar à saída; só conservo o que me apetece.
Se a sua roupa interior está a precisar de ser mudada, mudo-a imediatamente. Será a minha prenda. No entanto, se vejo uma outra mulher mais apetecível a passar, peço desculpas à primeira e suprimo-a imediatamente.
As pessoas que me conhecem garantem que eu não sou capaz de fazer o que estou a dizer, que não tenho temperamento para isso. Eu também achava que não, mas isso era porque eu não fazia tudo como me apetecia.
Agora, tenho sempre belas tardes. (De manhã, trabalho.)
Henri Michaux, As minhas propriedades. Tradução de Margarida Vale de Gato.