"Se por vezes somos felizes sem motivo, nunca podemos ser infelizes da mesma maneira.
E, numa época severa como é a nossa, espera-se que cada um escolha o inimigo certo e um destino à medida das suas forças. [...]
(...) por que razão alguém se deixa levar até à Pérsia, um país distante e exótico, apenas para ai sofrer investidas sem nome. Fala-se antes e sobretudo de desvios, de escapatórias, de falsos caminhos. E quem hoje vive num país europeu sabe como muitos não resistem à tensão atroz - uma tensão que se estende do conflito pessoal entre a necessidade de repouso e a capacidade de decisão, que se estende da necessidade material mais simples e inadiável às questões mais gerais e no entanto prementes da política, do futuro económico, social e cultural - uma tensão a que ninguém escapa ileso. E se, não obstante, a juventude tenta escapar ilesa, por conscienciosa que seja no modo como interpreta a sua fuga, ainda assim traz na testa a marca de Caim, a marca de quem traiu o irmão."
[Tod in Persien, relatos de 1930, tinta-da-china]
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