Vivo com um pé no campo e o corpo inteiro num aquário.
Sou aquele peixinho vermelho, doméstico, que começou a nadar de lado,
que ainda se mantém à tona da água doce e saturada.
Sou o marinheiro do conto do Herberto Helder, que a vida trouxe para o interior do país.
À noite uivo com saudades do mar e tenho medo de morrer de esgana.
Esta manhã mergulhei na maresia que cobria, como um manto branco, o pasto verde.
Corri sobre ela, como se tivesse barbatanas nos pés e fogo nas guelras.
Enchi os pulmões de oxigénio.
Reservei-o.
Vesti o escafandro, entrei no aquário e borbulhei a tubarões e alforrecas: "Bom dia!"
A esta hora ainda respiro.
Debaixo de água.
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