domingo, 26 de julho de 2015

Esta manhã


"Não somos anjos e nunca mentimos."

Poderia ser notícia, num daqueles folhetins entregues na estação.
Falaria de um fenómeno paranormal.
Rapariga (ex-amante), saíra de casa com a intenção de ir apenas tomar um café.
Alegára o despertar da rua e da memória, não por esta ordem, exactamente.
A necessidade urgente de reconciliação com a vida, (outra stalkercertamente), fizera-a tocar insistentemente na campainha do seu prédio, nessa manhã.
Primeiro no esquerdo, depois no direito. 
Depois, alternadamente.

Temia a revolta dos vizinhos, imaginando-lhes o acordar.
Temia a revolta da mulher, que acabára de deitar nos lençóis.

Por isso, só por isso, apresentaria queixa.

À mesma hora, num outro bairro, a campainha soou.
Uma jovem mulher, descansou a amante, dizendo-lhe saber quem era.
Levantou-se para abrir a porta.
Esquerda, direita.
Ninguém.

Sim, a campainha soou, à mesma hora.
A amante confirmou.

e nenhum deles abriu a porta
{mas tu abriste}




3 comentários:

  1. {Para a Anita - um presente, o meu melhor presente, sempre tão presente}

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  2. A nossa sintonia é daqueles segredos maravilhosos do universo. Abrir-te-ei sempre a porta quando sentir a tua urgência. Mesmo que estejas do outro lado do mundo.

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    1. agora emocionei-me... o mundo é tão melhor, contigo nele. tu, que atrais metais preciosos. moedas. tesouros. e não os guardas para ti. ofereces-te e formulas desejos. e existes. e és tão real.

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