quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Um bom negócio

O oposto de uma boa acção é um bom negócio, diz-me a R. que leu num livro do Afonso Cruz.

Arpad nasceu na Roménia, mas é português.
Corpo de quem trabalha dez horas por dia, há mais de cinco anos, e o ar cool da juventude.
Não o via desde o dia 12 de Junho e não estava à espera de o voltar a ver.
Esse dia fora caótico, mas Arpad estava radiante.
Acabava de comprar, com a namorada, uma ruína no Alentejo.
A ideia era restaurar e fazer nascer um turismo de habitação (dar asas ao sonho para o qual ambos estudaram).

Depois de a comprarem, planos com cinco anos ruíram.
Arpad chegou 15 minutos antes da hora marcada.
Na sala de espera, sentia o nervosismo dele.
A ex-namorada chegou 10 minutos depois, um misto de luxo exótico e decadência.
Despediram-se com dois beijos faciais, gélidos.
Ela saiu, Arpad ficou.
Era ele quem acabava de lhe comprar metade da ruína.
Depois dela sair, desabou.
Confidenciou-me que a imagem da ruína que comprava não lhe saia da cabeça (e isso via-se nos olhos).

O Arpad é um miúdo de boas acções.

A R. envia-me este link e diz: "é esta!"
[Um dia sacudi um saco de praia e assassinei uma máquina fotográfica que adorava. Ficou estilhaçada no chão, onde caiu, junto a uma piscina. A imagem da ruína em que a máquina fotográfica se transformou. A imagem da ruína.]
Vou tentar fazer um bom negócio, querida R.

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