Quando eu nasci, a minha avó já era velha.
Nunca soube a idade dela.
Sabia que as mãos eram grandes e fortes. Quentes.
Tantas vezes aqueceram as minhas, sempre frias.
A minha avó não tinha idade,
ou, tinha a idade do mundo.
Chegou muito tempo antes de mim.
O tempo suficiente para que o cabelo tivesse o comprimento de uma vida.
Da sua.
Todas as manhãs, desprendia da nuca o gancho que lhe segurava, num rolo mágico, o cabelo branco.
Depois, penteava-o demoradamente.
E, devagarinho, voltava a prende-lo.
A minha avó, que já era velha quando eu nasci, na realidade não tinha idade.
O tempo esquecera-se dela.
A azáfama dos dias era-lhe indiferente.
Tinha um ritmo só seu. O banho. O pequeno-almoço. A pequena saída à rua, para compras na mercearia, na padaria.
Depois do almoço, a sesta.
Durante a tarde aparecia sempre alguém para lanchar.
Chá. Cacao. Torradas com manteiga. Bolachas com geleia. Rosquilhas polvilhadas de açúcar e canela.
As conversas eram ternas e sem pressas.
Contava histórias (o passado), anedotas e lenga-lengas.
Escutava.
Gostava de ouvir falar, da vida e do mundo.
Demorava-se nos abraços.
Entregava-se, com eternidade.
possa o teu coração encontrar conforto nas recordações e no legado. mais do que chorar a perda, celebrar a vida partilhada.
ResponderEliminarGuardo o legado e brindo muito aos dias que vivi com ela!
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